Arquivo de Braga - Fair Play

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André CoroadoMaio 7, 20216min0

Numa época que marca o regresso à normalidade pós-pandemia, ainda que com restrições, as oito equipas do campeonato de elite preparam-se para uma fase regular a duas voltas, inédita. O que poderemos esperar deste novo marco na História da prova? Quem poderá surpreender na nova época?

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Bruno Costa JesuínoJaneiro 26, 20206min0

É óptima aquela sensação de ‘amor à primeira vista’. Mas como todas as histórias, até chegar a um final feliz, há uma sem número de ‘vistas’ que vão mensurado esse ‘amor’, que passa de bestial a besta num piscar de olho. E falamos de Rúben Amorim. Que nestes primeiros jogos tem sido um caso amor(im) à primeira, segunda e terceira vista.

O pleno de vitórias em todas as ‘vistas’

Na realidade já 5 vistas. Leia-se 5 jogos. E em todos eles fez o pleno de vitórias. Destacam-se três delas porque foram contra dois dos dos ‘grandes’ do futebol português. Duas com o Porto e uma com o Sporting. Mas vamos ao antes disso. Rúben Amorim pega na equipa de Sá Pinto, que com um brilhante percurso europeu, estava a desiludir a nível interno. Muitos pontos perdidos e a claudicar nos jogos com os grandes. Mais que os resultados, sentia-se que nesses duelos o Braga não se impunha com equipa ‘grande’ que quer vir a sair. Aliás, isto não só com Sá Pinto, pois salvo raras excepções, o saldo e as exibições com os grande deixaram algo a desejar para a nação bracarense.

A estreia não podia ser melhor. Na deslocação ao Jamor uma goleada das antigas por 7-1. Mas, como se costuma dizer, “o futebol é o momento” e na recepção ao Tondela foram muitas as dificuldades para vencer. Nesse jogo chegou-se a ouvir assobios na bancada. Depois, mostrou-se uma equipa mais consistente (com e sem bola) no Dragão, e com a sorte do jogo venceu onde não ganhava há muitos, muitos anos.

Chegado o momento da ‘final four’ da Taça da Liga, onde uma vez mais foi anfitrião, o Braga superiorizou-se ao Sporting na meia final. No cômputo geral demonstrou ser mais equipa, tanto a jogar contra 11, como depois contra 10. Mais pressionante e com muita dinâmica acabou por marcar perto do fim e dar justiça ao resultado, onde tinha sofrido o golo do empate num momento de distracção numa reposição de bola de Bruno Fernandes. Na final, um jogo mais equilibrado, onde a defesa se superiorizou o ataque. Mas o resultado aceita-se, o Braga mostrou-se quase sempre mais confiante e compacto, acabando o jogo a pressionar o Porto. Pressão essa que acabou por dar frutos com o golo de Ricardo Horta aos 95 minutos, o penúltimo dos descontos.

A história de um golo que esteve longe de ser só sorte

Ah e tal foi uma carambola que acabou por ir parar aos pés do Ricardo Horta. E foi. Mas o que antecedeu a jogada do golo esteve longe de ser só sorte. No lançamento lateral longo de Sequeira para a área do Porto, de destacar a forma como a equipa bracarense se posicionou (e bem) ainda com bola. Preparando a transição defensiva, marcou Soares em cima, o jogador seria o ponto de partida para  ligar um possível transição ofensiva dos ‘dragões’. Assim foi. O central do Braga ganha no duelo com o avançado, e depois a classe de Paulinho a colocar a bola entre linhas e o instinto de Ricardo Horta fizeram o resto. Ah, claro. E a sorte também.

O Rúben por detrás do  treinador

Rúben, dividiu a formação de jogador entre Benfica e Belenenses. Como jogador, não sendo um daqueles considerado fora de série, destacou-se acima de tudo pela sua polivalência. E para desempenhar várias funções com sucesso, muito se devia à sua inteligência. Sempre se entendeu que percebia o jogo como poucos. Saber sempre onde devia estar com e sem bola, fosse a jogar na “posição 8”, a mais natural face às suas características, num duplo pivô, a falso ala e até a defesa direito.

O factor mais negativo da carreira foi o facto de ter sido sempre muito propenso as lesões, muitas vezes, em fases em que estava a crescer. Como por exemplo aquela lesão grave (mais uma) joelho no sintético do Bessa. A sua personalidade forte fazia dele um dos líderes em campo, tanto para puxar pela equipa como para ajudar a corrigir posicionamentos dos colegas.

Quando se assumiu como treinador…

Como treinador, pegou no Casa Pia e deixou a sua marca, nos jogadores, no clube e na comunicação social. Devido a alguns problemas disciplinares, foi afastado, e depois do convite para assumir a equipa de sub23 do Benfica (que rejeito) assumiu o Braga B.

Quando o contratou, António Salvador já deveria ter na ideia um dia ‘dar-lhe o lugar’ o treinador principal, até porque também já o conhecia bem pela sua passagem pelo Braga. Assumiu a posição mais cedo do que era esperado (por todos), mas até tem deixado a sua marca, tendo em conta os grandes resultados, as boas exibições, as ideias positivas e, por agora. a sorte… que protege os audazes.

O fato de campeão de inverno serve-lhes bem

Rúben pegou na equipa e foi logo criticado por não ter o curso de treinador. Mas isso é uma outra história que agora não será esmiuçada. Com uma forma de perceber o futebol muito própria, implementou rapidamente as ideais que já lhe reconhecia nas passagens pelo Casa Pia e pelo Braga B.

Um sistema assente em três centrais, mas com muitas dinâmicas, que consoante as nuances do jogo, tanto defende numa linha com três, quatro ou cinco. Mas mais que o sistema, é a nova ideia que o treinador trouxe para a equipa. Um modelo que tem apresentado mais soluções ofensivas, algo que a equipa vinha sentido dificuldades diante de adversário que se fecham mais.

Se calhar, mais até que os resultados e exibições é a postura e a personalidade da equipa que tem surpreendido. Todos sabemos que são resultados que mandam, e uma fase má pode quase apagar o que de bom Rúben Amorim trouxe para Braga, mas que o início é prometedor, lá isso é.

Um bom arsenal de armas

Muito já se elogiou o plantel do Braga por ser muito homogéneo, com duas opções de valor semelhante para cada posição. Basta pensar que no duplo pivot do meio campo, tem sido usados Palhinha e Fransérgio, estando no banco André Horta e João Novais! Jogadores que poderiam caber no plantel dos três grandes. Na frente Ricardo Horta e Francisco Trincão têm feito companhia a Paulinho. Mas a concorrência é forte, com Wilson Eduardo, Galeno, Rui Fonte. E ainda há Bruno Xadas.

O dinamismo e toda aquela basculação que a equipa vai fazendo, permite entre outras coisas, dar maior liberdade aos principais desequilibradores (por norma os extremos Horta e Trincão) que lhes permite, por exemplo, recuperar mais tarde na transição defensiva.

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Bruno Costa JesuínoJaneiro 20, 20207min0

Rivalidade. Rivalidade não é guerra. Embora pareça que no futebol há uma linha, demasiado ténue, que as separa. Felizmente, os protagonistas, ou pelo menos aqueles que o deviam ser, ainda nos dão muitos bons exemplos. Um desses casos é o badalado “Bruno Fernandes”, que nos últimos tempos tem dado bons exemplos de fair play fora de campo. Além disso, vamos falar no futebol. Mas daquela parte que interessa.

Bom exemplo, um que está sempre a reclamar durante os 90 minutos?

É um facto. O seu perfil em campo faz com que passe muito tempo a reclamar com árbitros e adversários durante os 90 minutos. Mas não é essa parte que o artigo quer destacar. É a capacidade de Bruno Fernandes não ter receio em falar sem tabus de assuntos que muitos não têm coragem de o fazer. Os elogios públicos aos “inimigos”. Ah, espera, isso é a forma como muitos pensam. Vou reformular. O capitão dos ‘leões’ elogiou publicamente a qualidade de vários rivais. No final da época passada, em declarações à RTP, no final da época passada, elogiou a capacidade um jogador portista.

Não vou dizer que sou eu. Não é uma questão de humildade a mais, mas não me consigo ver dessa maneira. Há um jogador que este ano até pode não ter sido tão preponderante, mas que gosto muito: o Brahimi. Para mim, quando quer, é o melhor jogador do campeonato.

As palavras estenderam-se ainda a outros destaques do rival da segunda circular, pelas excelentes época que fizeram.

Dos portugueses… Temos a surpresa João Félix, que fez um grande campeonato, mas pela influência que tem diria o Pizzi. Talvez até o possa colocar no mesmo patamar que o Brahimi.

Mas não se ficou por aqui, ainda esta época, o capitão do Sporting, fez um comentário nas redes sociais a elogiar a excelente prestação do benfiquista diante do Zenit.

Adivinhem o que aconteceu?

Se calhar não é preciso muito para se adivinhar o que aconteceu. Pois bem, no futebol, o elogio a rivais tem sempre o reverso da medal. Para grande parte dos adeptos ser simpático para um adversário é algo proibido, e quem o faz é considerado pelos mais radicais, como ‘traidor’. Inclusive por aqueles adeptos ‘famosos’ que vão à televisão. Lembro-me quando o Benfica ganhou ao Porto, um desses em adeptos, no Prolongamento, ter criticado por no fim do jogo Ricardo Quaresma ter dado um abraço a Jorge Jesus. Para ele, é inconcebível depois de uma derrota ser ‘simpático’ com um adversário. Óbvio que anos depois, também apoiou o ‘não cumprimentar’ que Sérgio Conceição fez a João Félix no mesmo estádio, e também após um desaire.

It’s  footbal, not war

O futebol é a coisa mais importante dentre as coisas menos importantes das nossas vidas.

Esta famosa frase é da autoria do ex-jogador e treinador italiano Arrigo Sacchi, e devia ser lembrada todos os dias. Lembrada e levada à letra. E após o apito final não eternizar guerras sem sentido e com base num clubismo exacerbado, que mais se aproxima de ódio. E tudo começar quando se odeia mais um rival do que se gosta do seu clube.

It’s football, not war. E sigam o exemplo, dos jogadores. Que por vezes não demonstram mais devido às más reacções de parte significativa dos adeptos. Por isso, parabéns Bruno. E que o teu ‘grande’ futebol continue a acompanhar a tua ‘grande’ postura. Seja onde for.

Nélson Semedo e Bruno Fernandes:

João Félix responde a Bruno Fernandes:

O nosso futebol: ponto de situação

Acabou a primeira volta do campeonato e em pouco mais de quatro meses muitas coisas há destacar. Vamos pegar em dois pontos positivos e um negativo.

A ‘dança’ dos treinadores ja dava (quase) para fazer um ‘onze’

Começar por um menos positivo. Desde o início houve dez mudanças de treinador. Quer dizer onze, com  saída de Folha do Portimonense durante o fim de semana. O Sporting, contando com o interino Leonel Pontes, e o Belenenses, já vão na terceira escolha. Não será por acaso as épocas conturbadas e abaixo das expectativas que ambas as equipas têm tido. Aliás, curiosamente, Silas, actual treinador do Sporting, começou a época no Belenenses (ou será que deverei B Sad ou Code City!).

Mas mais que a mudança de treinadores é a mudança de estratégia em poucos meses. O Marítimo começou a época com Nuno Manta Santos (agora no Aves), um treinador de transição, e ao fim de alguns meses mudou para José Gomes, um treinador que aposta num jogo de posse. O mesmo com Vitória Futebol Clube, que depois de Sandro, que montava a equipa centrada na segurança defensiva, apostou no espanhol Júlio Velasquez.

Em sentido oposto, o Belenenses que depois de Silas e Pedro Ribeiro, apostou em Petit. Treinador que se tem especializado em assumir salvar da descida equipas que assume a meio da época, mas que ao contrário dos antecessores, apresenta uma forma de jogar antagónica.

O grande Fama, o Gil de Oliveira e os recordes de Lage

A grande sensação da época tem sido o Famalicão, ainda por cima neste regresso à primeira liga depois de algumas décadas de ausência. Um projecto que está a ser criado há alguns anos e que está a dar frutos. Uma aposta em jogadores jovens, que têm tudo ainda para mostrar. Reforçou-se tanto no verão como agora no mercado do inverno. Até ver ainda não deixou sair nenhum dos principais jogadores, e está no sensacional terceiro lugar. Será que vai continuar a surpreender?

Quase tão surpreendente, o também regressado Gil Vicente. Com um plantel por montar a partir do zero, escolheu o experiente Vitor Oliveira, o mestre das subidas de divisão. Uma missão difícil nas mãos certas. Destaca-se a vitória sobre o Porto e Sporting, e mesmo depois de alguma séries negativas, encontra-se no 8º lugar, seis pontos acima da linha de água.

Mesmo com algumas fases negativas, principalmente após a derrota com o Porto, o Benfica de Bruno Lage teve a força de ir ganhando quando jogou mal. Com o regresso Gabriel e depois de Chiquinho, e a explosão de Vinícius a equipa estabilizou, mesmo quando perdeu o jogador que em melhor forma: Rafa. Em 51 pontos, conquistou 48, apresentando o melhor ataque e a melhor defesa (+7 golos e -5 que o Porto, respectivamente).

Uma palavra para a qualidade de jogo do Vitória Sport Clube, apesar de alguns resultados menos positivos do que as exibições adivinhavam.

Do trio benfiquista ao incontornável Bruno Fernandes

A prova quase imaculado do Benfica tem tido em Pizzi, desde o início, e melhoria exibicional com a entrada de Chiquinho e Vinícius. O primeiro porque é aquele que mais aproximou o Benfica das dinâmicas da época passada (quando tinha João Félix) e o brasileiro pelas novas soluções que deu à equipa, além da excelente média de golos.

No Porto o maior destaque tem sido Corona. O mexicano, jogue em que posição jogar é actualmente o mais imprescindível. Os reforços Marchesin, entrou muito bem na equipa, e Luis Diaz, embora a espaços, tem oferecido à equipa aquilo que Brahimi tinha de melhor.

No Braga, Ricardo Horta tem sido o mais influente na frente, enquanto Palhinha tem crescido muito. A capacidade de equilíbrio de dá a equipa faz lembrar a influência que Fejsa já teve no Benfica.

Na cidade de Guimarães, com um plantel bem recheado, Ivo Vieira tem rodado muito a equipa de jogo para o jogo. No entanto, o jogador mais utilizado, tem sido Tapsoba, um dos melhores centrais do nosso campeonato. No Sporting, Bruno Fernandes. Sempre, Bruno Fernandes.

Outros destaques: Kraev (Gil Vicente), Davidson (Vitória SC), Nehuén Perez, Pedro Gonçalves, Fábio Martins (Famalicão), Taremi (Rio Ave), Pepelu (Tondela), Filipe Soares (Moreirense) e Mehrdad Mohammadi (Aves).


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